quinta-feira, 28 de abril de 2011

"Grêmios DF"

Seja a mudança que você deseja ver no mundo.







Através deste texto, venho externar, ainda que sutilmente, um pouco da história da reconstrução do grêmio estudantil do Centro de Ensino Médio Elefante Branco - CEMEB, palco de resistência à ditadura militar.

Qualquer estudante que ama a história daqueles que combateram a ditadura e acredita na força da democracia, antes de estudar no Elefante, conhece bem a força combativa da nossa escola através do movimento estudantil. Quando vim estudar aqui, sonhava estudar numa escola que nos desse espaço para desenvolver nossa criatividade e nosso senso crítico, algo que sempre busquei fortalecer durante algum tempo da minha vida.

Porém, quando cheguei no CEMEB, percebi que a realidade não era bem assim. Laboratórios, que antes funcionavam a todo vapor, com professores qualificados e bem remunerados, estavam fechados, fazendo companhia ao piso desgastado e à falta de material para o trabalho didático dos professores. Estava bem clara a deterioração da estrutura da escola. Mas a coisa não parava por aí. Faltava uma coisa muito importante também: democracia. Os estudantes não participavam da vida escolar, não tinham sua opinião respeitada e, como consequência, se sentiam alheios. É como em uma aula que a gente só escuta o que o professor fala e não participa: a aula se torna desinteressante, massiva, e parece que a gente está lá forçado, não é mesmo? Bem, numa escola sem democracia, como se encontrava o Elefante, até então, não era diferente. Os estudantes se viam desinteressados, queriam ficar em casa e achavam chato tudo o que tinha na escola. A partir de então, passamos a questionar essa realidade e, através de conversas nos corredores da escola com colegas, percebemos que muitos viam a necessidade de que os estudantes participassem mais das decisões.
           Para transformar qualquer realidade, é necessária a organização daqueles que a querem transformar. Sabíamos que escola não estava naquele estado porque o governo não tinha recursos, ou porque simplesmente os alunos não queriam estudar. Percebemos que, para além do problema da pouca preocupação com o investimento na educação pública, havia também pouca preocupação dos gestores no fomento da democracia dentro da escola. Conheci, pouco a pouco, aqueles que pensavam como eu e tivemos a ideia de formar um grêmio estudantil, no sentido de organizar os estudantes em torno da luta por mudanças. Não vou dizer que a priori foi fácil. Muito pelo contrário. Estava claro que a ditadura ainda tinha deixado algumas heranças e que nós teríamos que enfrentá-las.           A primeira dificuldade veio quando tentamos fazer a eleição do grêmio. A direção que estava no “comando” da escola, naquela época, não queria de forma alguma que os estudantes se organizassem, achando que faríamos da escola um caos. Nós dissemos não a este preconceito e fomos à luta para organizar o tão desejado grêmio estudantil e, mesmo com algumas dificuldades, conseguimos eleger a nossa chapa, que era única.
           Logo, a escola foi tomada por uma efervescência há muito tempo não vista. Entrávamos na sala de aula falando da necessidade da participação dos estudantes e incentivando-os a participarem de passeatas e manifestações que reivindicavam mais investimentos em educação. Falávamos de Honestino Guimarães, ex-líder estudantil morto durante a ditadura militar e que estudou na nossa escola. Falávamos, veementemente, da necessidade da democracia, como meio de construir um mundo diferente.
           Algumas vezes ficávamos desanimados, em meio às perseguições de alguns professores e da direção. Porém, mesmo assim, sabendo da história de luta daqueles que por alí já tinham passado, insistimos em continuar. E fomos tocando o barco... vinha uma tempestade aqui, uma calmaria alí, e, no fim da gestão, percebemos que fomos os protagonistas de uma grande transformação. Os estudantes agora já não se sentiam tão desanimados, e muitos já estavam convencidos da necessidade da organização dos estudantes.

           Conseguimos conquistar muita coisa. Além de termos transformado aquela rotina pedante, agora a galera tem vontade de ir para escola, porque se sente parte dela e tem uma enorme energia para fazer, como nós chamávamos, a “ressuscitação do movimento estudantil no Elefante”. Conquistamos o passe livre estudantil e participamos de grandes passeatas que exigiam o investimento de 50% do fundo social na educação. As conquistas animaram ainda mais o pessoal, que agora vê que nossos sonhos podiam, de fato, se tornar realidade.

           Veio outra eleição de grêmio e, para nossa surpresa, três chapas foram escritas, com diversas propostas e com a certeza de que os estudantes tinham tomado a rédia da nossa história. O processo eleitoral foi caloroso e todo mundo se animou para confeccionar faixas, cartazes, bandeiras e conversar com os estudantes sobres as propostas. Nossa chapa foi eleita com 89% dos votos válidos e passamos a implantar um avançado projeto para fortalecer o movimento estudantil no CEMEB.

           Hoje nosso grêmio é considerado um dos grêmios de maior relevância política do Brasil. Tive a oportunidade de ser eleita, num processo eleitoral nacional em 2010, parlamentar juvenil, integrando o Parlamento Juvenil do Mercosul – PJM, representando o segmento estudantil do nosso país pelo Distrito Federal. Fomos para o Rio de Janeiro, passando pela África do Sul e por Montevidéu. Participamos de vários eventos no Brasil, de congressos e ajudamos a realizar grandes jornadas de luta para exigir que a educação assuma o seu devido papel: o de colocar o povo brasileiro à frente das mudanças do nosso país, de ser estruturante quando falamos de um mundo igual, com distribuição de renda e participação popular. Mas, talvez, o que tenha nos marcado mais seja a materialização de um projeto que nos deu a certeza que o mundo ainda está muito longe de ser justo e de que um novo mundo é possível.

Faça parte dessa luta também ! Organize seu grêmio estudantil e seja mais um protagonista dessa história !


"Correndo o risco de parecer ridículo, deixem-me dizer-lhes que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor." (Che Guevara)
Patrícia de Matos - Presidente do Grêmio


Encontro de Mulheres

28 de abril de 2011
4º Encontro de Mulheres Estudantes da UNE em Salvador reúne mais de 700 estudantes de todo o país


Durante o evento na Universidade Federal da Bahia (UFBA) temas como assistência estudantil, aborto e a inserção das mulheres na política foram debatidos pelas participantes que ao final redigiram a Carta das Mulheres Estudantes Brasileiras. Confira!

O 4º Encontro de Mulheres Estudantes da UNE reuniu entre os dias 21 e 24 de abril mais de 700 estudantes de todo o Brasil na Universidade Federal da Bahia (UFBA), campus Ondina em Salvador.  Com a temática “Ô abre alas que as mulheres vão passar”, o 4º EME tratou das históricas bandeiras de luta do movimento estudantil tendo como enfoque as mulheres estudantes.
Durante os quatro dias de encontro, temas como assistência na universidade, aborto e a inserção das mulheres na política foram debatidos. O público feminino presente no evento reafirmou a atualidade da luta das mulheres e o compromisso pela superação do patriarcado, do machismo, do racismo, homofobia e  lutando pela garantia de autonomia e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
“A luta contra o machismo é fundamental e atual. O Brasil ainda está distante de ser uma sociedade igual para mulheres e homens. Queremos mulheres na política e no poder! Chega de machismo na universidade! Viva a luta feminista!” afirmou o presidente da UNE Augusto Chagas que participou cerimônia de abertura do 4º EME.
No encontro foi defendida a necessidade da UNE incorporar em seu debate a reforma política e agregar entre suas principais tarefas estudantis a luta por creches universitárias em tempo integral, a destinação de 30% de cotas para as mulheres na diretoria executiva e no pleno da entidade e a luta pela legalização do aborto.

Reforma Política: mais mulheres nos espaços de decisão!
A luta por participação política das mulheres é a luta cotidiana das mulheres que foram historicamente colocadas nos espaços privados. A eleição da primeira Presidenta da República apresenta um novo cenário para a participação das mulheres nos espaços de poder. A reforma política em debate no Senado é de fundamental importância para garantir que as mulheres possam estar inseridas nos processos eleitorais de forma igualitária aos homens. Nesse sentido, as mulheres estudantes defendem a lista fechada com alternância de gênero e financiamento público de campanha que possibilitarão um avanço para o aumento da participação política das mulheres nos espaços de poder.

Campanha pela Legalização do Aborto
O 4º EME continuou reafirmando a defesa da legalização do aborto, como uma importante luta das mulheres. A Campanha pela Legalização do Aborto, aprovada em 2007, foi um importante instrumento para dar visibilidade ao debate e denunciar a opressão e o preconceito vividos pelas mulheres com a criminalização da prática do aborto. Os números do aborto no Brasil são alarmantes e são as jovens mulheres e negras que mais morrem em decorrência dessa ilegalidade. A partir da campanha, percebeu-se a necessidade do assunto ser abordado constantemente no movimento estudantil.  Portanto, as mulheres estudantes da UNE continuam defendendo a legalização do aborto e afirmando o direito das mulheres de decidirem sobre seus suas vidas e corpos.
Confira no Flickr da UNE, fotos das etapas estaduais e as imagens oficiais do 4º Encontro de Mulheres da UNE:http://migre.me/4nIwM


Carta das Mulheres Estudantes Brasileiras
Nós, mulheres reunidas no IV Encontro de Mulheres Estudantes da UNE, nos dias 21 e 24 de abril de 2011, afirmamos a atualidade da luta das mulheres e reafirmamos nosso compromisso com a luta pela superação do patriarcado, do machismo, do racismo e pela garantia da nossa autonomia e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

As Mulheres transformando a universidade
A opressão das mulheres está presente no cotidiano de suas vidas. Tal opressão se estrutura a partir do espaço privado familiar e da divisão sexual do trabalho que organiza toda a estrutura social e impõe um modelo de existência eurocêntrica. Responsabiliza a mulher pelos afazeres domésticos, relacionados à limpeza, à cozinha, ao cuidado e à assistência às crianças, aos idosos e aos doentes; impõe a desvalorização e a sub-remuneração do trabalho feminino; desresponsabilizando o Estado destas tarefas coletivas, sobrecarregando as mulheres através da exploração pelo núcleo familiar. Nesse sentido, às mulheres cabe a reprodução e cuidado da sociedade.

Por outro lado, aos homens fica a responsabilidade do trabalho de produção valorizado, excluindo a mulher da participação política em nossa sociedade. Ainda hoje, somos minoria esmagadora nos espaços de decisão da sociedade, no parlamento, no legislativo e no executivo.

A violência contra a mulher também continua sendo uma realidade cotidiana, em especial na esfera doméstica. Naturaliza-se a violência psicológica, moral e a agressão física contra as mulheres. A questão da violência contra a mulher pode ser potencializada se, além de mulher, ela for lésbica, negra, pobre, migrante e portadora de deficiência.
A violência específica contra as lésbicas pode ser manifestada nos estupros corretivos, ausência de informação e métodos de proteção contra DSTs, impossibilidade de união estável com direitos plenos, enfim, ausência de políticas públicas específicas. A falta de visibilidade das lésbicas na sociedade corrobora com este cenário de descaso e negligência. Ignorar a existência das lésbicas é cercear nosso direito de lutar por nossa emancipação.

As mulheres negras ainda são aquelas que vivem uma realidade do trabalho informal e precarizado, principalmente dentro do trabalho doméstico, onde estas são a maioria. Destacamos ainda que apesar das políticas públicas como as cotas, terem inserido a população negra nesses espaços, as mulheres negras  ainda não possuem uma participação efetiva ,tendo portanto uma menor representação nos espaços do movimento estudantil,que representa uma realidade branca e de classe média. O sentido do IV EME acontecer na cidade do Salvador-BA cumpre o papel de colocar nos espaços do M.E. a realidade das mulheres negras na agenda das mulheres estudantes, hoje estas são a parcela das mulheres que vivem abaixo da linha da pobreza e que sofrem com os abortos ilegais e inseguros, além de engrossarem as estatísticas de desemprego e subempregos.

Acompanhamos uma contra ofensiva conservadora em todo o país. Um importante exemplo é como foram tratadas as mais importantes pautas do movimento feminista no processo eleitoral de 2010: a união civil de pessoas do mesmo sexo, o casamento civil igualitário e o aborto. Este especificamente foi tratado como algo a ser criminalizado ou apenas não debatido.


Em nenhum momento a maternidade é tratada como escolha, direito da mulher e autonomia sobre o próprio corpo. No Plano Nacional de Direitos Humanos III a discussão sobre o aborto foi suprimida, ignorando que esse debate fosse tratado como uma questão de saúde pública, fruto da pressão religiosa. A defesa do Estado laico é central para o movimento feminista.

Sabemos que o fato de sermos estudantes é fruto da luta de mulheres que vieram antes de nós e conquistaram o direito das mulheres à educação. As mulheres representam hoje 55% dos estudantes universitários, mas ainda é necessário romper preconceitos e discriminações sociais que concentram as mulheres em áreas do saber relacionadas ao que é tradicionalmente considerado feminino.

Nos espaços da universidade são recorrentes o constrangimento moral e o assédio sexual contra as estudantes, em especial durante as festas e atividades de recepção às e aos estudantes ingressantes. Acontecimentos como o desfile das bixetes, o rodeio das gordas, os trotes e as piadas com apelo sexual são lamentáveis e reproduzem a concepção machista da mulher como mero objeto de desejo.

Também nas universidades, temos muitos desafios, necessitamos de uma política de assistência estudantil específica para as mães estudantes, assim como a efetivação do direito a licença-maternidade para as estas. As reivindicações pelas melhorias na assistência estudantil passam também pela luta pelo aumento de verbas na educação pública. Está em disputa os rumos do Plano Nacional de Educação em âmbito federal. A luta pelos 10% do PIB para a educação publica também é nossa, indo de encontro aos recentes cortes na educação que atende a agenda conservadora no país.

A organização permanente das estudantes é fundamental, pois é ela que garante a incorporação das bandeiras feministas na agenda política do movimento estudantil e da universidade. Se há avanços, ainda há muito por fazer: mesmo nos espaços do movimento estudantil persistem situações de machismo e opressão. Os espaços políticos ainda são compostos majoritariamente por homens, e a luta e a militância das mulheres continua sendo colocada em segundo plano.

Nesse sentido, as mulheres da UNE entendem que a universidade não está deslocada do conjunto da sociedade e que na luta contra a opressão sexista é necessária a união destas às diversas instâncias dos movimentos sociais, entre elas o movimento negro, o movimento de mulheres do campo, as mulheres lésbicas, as mulheres indígenas.
Reforma Política: mais mulheres nos espaços de decisão!

A luta por mais participação política das mulheres é pungente. Mesmo que a eleição da primeira Presidenta da República mulher, tenha tido um impacto simbólico para nossa sociedade, sabemos que isso apenas não basta para mudar a vida das mulheres. Nosso debate parte da compreensão sobre as tarefas e desafios para a luta feminista. Portanto, o debate sobre Reforma Política em curso é de fundamental importância, garantindo que o processo termine com vitórias para as mulheres. Nesse sentido, a lista fechada com alternância de gênero e financiamento público de campanha são agendas comuns que possibilitarão um avanço para o aumento da participação política das mulheres nos espaços representativos.

O tema “Ô abre alas que a mulheres vão passar” deste IV EME coloca, para nós estudantes, o desafio de afirmar a nossa passagem, e chegada efetiva, nos espaços de decisão na sociedade e nos responsabiliza pela participação na luta de aprovarmos uma reforma política inclusiva em nosso país. Tendo em vista o acúmulo que tivemos neste IV EME onde destacamos mais uma vez, nossa luta pela desnaturalização do modelo de vida que a sociedade nos impõe com as atribuições e responsabilidades consideradas femininas que servem para nos encaminhar ao espaço privado, exigimos medidas efetivas para nossa garantia nos espaços públicos valorizados que tanto lutamos.

Para isso, é necessário que a UNE incida na discussão da reforma política de modo a defender a participação das mulheres nos espaços de decisão. Mas, também, que ela concretize na sua própria estrutura interna a participação efetiva das mulheres nos espaços de direção garantindo 30% de cotas para mulheres nas estruturas da entidade, assistência estudantil específica para as mulheres estudantes que garanta sua permanência na universidade.

Propomos a seguinte agenda feminista para a UNE no próximo período:

•         Reforma política: Mais Mulheres nos espaços de Decisão!
•         Por creches universitárias em tempo integral!
•         Cumprimento de 30% de cotas para mulheres na diretoria da UNE, na executiva e no pleno!
•         Legalização do aborto


SEM FEMINISMO NÃO HÁ SOCIALISMO!
As mulheres estudantes também lutam por:

» Garantia de creches e educação infantil em tempo integral;

» Pela criação do Plano Nacional de Assistência que contemple as casas de estudantes, que respeitem a questão de gênero e raça e as creches universitárias;

» Segurança feminina com treinamento específico 24 horas nos campi;

» Incorporação da questão de gênero nos currículos dos cursos de ensino superior;

» Educação não sexista, não racista e não homofóbica;

» Ofensiva de denúncia ao machismo na Universidade e no Movimento Estudantil;

» Fomento à produção de conhecimento sobre gênero;

» Incorporação de bandeiras do Movimento Estudantil, que afetam fortemente as mulheres, às pautas do movimento feminista, como 10% do PIB para a educação;

» 50% do Fundo Social para Educação;

» Por um PNE que inclua um recorte de gênero e raça;

» Erradicar o analfabetismo;

» Lutar pela igualdade salarial;

» Autonomia econômica das mulheres;

» Legalização do aborto;

» Fortalecer o EME entendendo ser este um espaço fundamental do Movimento estudantil;


Que as entidades do Movimento Estudantil se incorporem ao calendário unificado do Movimento Feminista:

8 de março – dia internacional de luta das mulheres

25 de maio – Dia da mulher negra latino-americana

25 de junho – dia de mobilização por uma educação não sexista

29 de agosto – dia da visibilidade lésbica

28 de setembro – dia de luta pela legalização do aborto

17 de outubro – dia de luta contra a pobreza entre as mulheres

20 de novembro – dia da consciência negra

25 de novembro – dia internacional de combate à violência contra as mulheres.
Salvador, Bahia, 24 de abril de 2011.